Eleição Municipal

Candidato, vocábulo que deriva de cândido, puro, íntegro. A ingenuidade de muitos candidatos se desfaz quando, convidado a concorrer às eleições, acredita que, se eleito, não será “como os outros” (quantos não disseram isso no passado; e hoje…) e prestará excelentes serviços ao município.

O que poucos candidatos desconfiam é que servem de escada para a vitória eleitoral de políticos que criticam. Para se eleger é preciso obter quociente eleitoral – aqui reside o pulo do gato.

Cândidos eleitores imaginam que são empossados os candidatos a vereadores que recebem mais votos. Ledo engano. João pode ser eleito ainda que receba menos votos que Maria. Basta o partido de João atingir o quociente eleitoral.

É muito difícil um único candidato obter, sozinho, votos suficientes para preencher o quociente eleitoral. A Justiça Eleitoral soma os votos de todos os candidatos do mesmo partido, mais os votos dados apenas ao partido, sem indicação de candidato.

Se você pensa em votar em João, por exemplo, fique de olho. Pode ser que ele sirva de degrau para a ascensão de candidatos cuja prática política você condena, como a falta de ética, o oportunismo ou o fundamentalismo. Enquanto não houver reforma política, o sistema eleitoral funciona assim: muitos novos candidatos reelegem os mesmos políticos de sempre!

Saiba que escolher o partido é mais importante que escolher o candidato. Votar de olho somente no João pode resultar, caso ele não seja eleito, na eleição de outro candidato do partido.

Como alerta o sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, “mais frequente é a derrota e a frustração de pessoas bem-intencionadas, porém desinformadas. Ao se apresentarem como candidatas, elas mobilizam familiares, amigos e vizinhos para a campanha. Terminadas as eleições, percebem que sua votação só serviu para engordar o quociente eleitoral do partido ou da coligação… Descobrem, tarde demais, que eram apenas ‘candidatos alavancas’”.

Convém ter presente que o nosso voto vai, primeiro, para o partido e, depois, para o candidato.

Hoje, devido aos vícios de nossa estrutura política, muitos partidos não seguem os programas que adotam, e raros candidatos conhecem as propostas contidas nos documentos dos partidos que lhes dão apoio. E nem todos os candidatos são tão sinceros como aquele de Goiás que, candidato a deputado estadual, declarou sem o menor constrangimento: “Quero mesmo é melhorar a minha vida pessoal.”

São muitos os candidatos que, na verdade, não se importam, uma vez eleitos, em representar os eleitores. Tornam-se representantes de corporações (religiosas, empresariais, contraventoras…) que os elegeram canalizando recursos financeiros à campanha. Diz o ditado que, no Brasil, quem vota é a pessoa física, mas quem elege é a pessoa jurídica…

Portanto, vote sem ingenuidade. Vote consciente! Vote para mudar e melhorar! Vote em candidatos progressistas sem vínculos espúrios com milicianos, torturadores, misóginos e oportunistas. Vote a favor da maioria – o heroico, sofrido e trabalhador povo brasileiro!

Frei Betto é escritor, autor de “O marxismo ainda é útil?” (Cortez), entre outros livros.

Síndrome da Gata Borralheira

Política é como salsicha, melhor não saber como se faz. Em se tratando de campanha eleitoral, tudo fica mais complicado, pois os ingredientes da receita quase nunca condizem com o paladar dos eleitores.

Os candidatos pertencem a um partido que, teoricamente, defende um programa para o município. Não sei qual seria o resultado de uma pesquisa que pedisse aos candidatos para destacarem dez pontos fundamentais do programa de seus partidos. Desconfio de que a maioria nunca o leu.

Ocorre que há quem prioriza a preferência partidária e não o candidato. Se o político troca de partido, corre o risco de perder a eleição, pois muitos eleitores negam apoio a quem cede ao pecado da infidelidade partidária.

Assim, os partidos transformam-se em confederações de tendências. São como a matrioska, a coleção de bonecas russas encaixadas uma dentro da outra. Abrigam partidecos que, por sua vez, travam disputas internas. Como diria tia Quitéria, deve ser por isso que se chamam partidos… Alguns deveriam ser qualificados de repartidos.

Na eleição o que conta – além do horário gratuito no rádio e na TV – é o marketing. Nessa área ocorre a mais evidente contradição, resultante de três afluentes que desaguam numa imensa pororoca: o candidato, o partido e a agência de publicidade contratada para maquiar o político.

Os partidos não costumam ter assessoria de imprensa e, muito menos, departamento de marketing, o que é uma falha. Aos candidatos, que em geral não podem dispor de assessoria permanente, não resta alternativa senão improvisar. Procuram um jornalista que tenha com eles um mínimo de afinidade ideológica e, se possível, afetiva, e o contratam.

Há casos em que o assessor de imprensa é um profissional de aluguel – trabalha para quem paga, não importa se o candidato é de direita (para não cair no chavão, recorro a Bobbio: ou seja, aceita como natural e/ou justificável a desigualdade social) ou de esquerda (não se conforma com a desigualdade social).

Tudo se complica quando chega a hora do rádio e da TV. Os marqueteiros eleitorais são poucos e, em geral, disputadíssimos. Por isso, são caros. E trabalham para quem paga. Os partidos de direita, plenos de poder e dinheiro, contratam os mais competentes. Para a direita tudo é mais simples, pois se move por interesses, ao contrário da esquerda, que se move por princípios (ou deveria fazê-lo).

Na falta de clareza de seus princípios e no afã de ganhar a eleição, a esquerda acaba agindo espelhada na direita: contrata a preço astronômico uma equipe de publicidade que nada tem a ver com a sua proposta política.

Marqueteiros eleitorais dificilmente são de esquerda. Eis um complicador. Alguém deve ceder: o marqueteiro, ao se submeter às decisões da coordenação da campanha, ou o candidato, ao se conformar às exigências de marketing.

Em geral, cede o candidato e, com ele, o programa da campanha, a índole do partido e o perfil ideológico que atrai seus eleitores. Resultado: a síndrome da gata borralheira – o político é popular e progressista, mas, em mãos da fada marqueteira, ganha o perfil de linda donzela e ainda acredita que atrairá eleitores quais príncipes enamorados. Nesse baile de nobres, seu discurso adquire moderação, os temas polêmicos ficam debaixo do tapete, já não se pode distinguir entre a gata borralheira e as moças da corte.

Há na propaganda política uma abissal diferença entre o município real e o eleitoral. Muito do que se mostra na TV é cenário e montagem de estúdio. E haja fake news! Eis-nos em plena virtualidade política! O eleitor recebe, pela janelinha eletrônica, um produto tão maquiado quanto um presunto ou uma margarina. O candidato não fala o que pensa nem o que sente. Lê no teleprompter um texto elaborado pelos marqueteiros. Tudo soa falso: o sorriso, o tom de voz, o gesto e, quase sempre, as promessas.

A propaganda eleitoral pela TV e redes digitais pesa muito nas oscilações da bolsa eleitoral de um candidato. Ocorre que o meio é a mensagem e a TV e as redes veículos viciados. Nelas o conteúdo importa menos que a emoção.

Em se tratando de campanha, tudo se complica, porque sobe nas pesquisas quem produz mais efeitos especiais. O bonito ganha do feio, o rico do pobre, o histriônico do tímido, o mentor de assassinos daquele que defende os direitos humanos.

Em suma, essa engrenagem eleitoral é para manter o sistema e, com ele, as oligarquias no poder. A esquerda chegar ao poder é tão viável quanto acertar números premiados nas loterias. Mas vale tentar, desde que haja fidelidade ao drama de milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza e, nos municípios, sobrevivem em condições desumanas.

Frei Betto é escritor, autor de “Cartas da prisão” (Companhia das Letras), entre outros livros.

A aranha na bicicleta

Um iate carregado de bilionários naufragou na costa da Itália em agosto deste ano. A tragédia inundou o noticiário, o mundo se comoveu, a guarda costeira italiana mobilizou seus melhores mergulhadores e equipamentos.

No entanto, quase toda semana um barco repleto de refugiados africanos, incluindo crianças, afunda nas águas do Mediterrâneo e, por eles, ninguém derrama uma só lágrima, nem os sinos dobram, à exceção das campanas do Vaticano, já que o papa Francisco clama por eles no deserto…

Há pelo menos três tipos de refugiados: os econômicos, os políticos e os climáticos.

Os que tentam entrar na Argélia para, em seguida, se arriscar pelo deserto do Saara, agora encontram as fronteiras fechadas. Em muitos países africanos o peso da inflação, o desemprego e a violência obrigam multidões a se deslocar na esperança de uma vida melhor.

Em 2020, a população migrante global foi estimada em 281 milhões. Se tanta gente formasse uma nação, seria a quarta do mundo, atrás da Índia, da China e dos EUA.

A maioria dos refugiados não se enquadra nos parâmetros da Convenção e Protocolo Relativos à Situação dos Refugiados, de 1951, nos primórdios da Guerra Fria. Na época, o eurocentrismo da Convenção considerava “falta de liberdade” fugir do bloco socialista. Presumia-se que liberdade era um atributo do Ocidente… Não se levava em conta os refugiados por razões econômicas.

Ainda hoje se entende por “refugiado” quem procura se livrar de perseguição política, e não os que buscam escapar da fome, da miséria, do desemprego, da guerra.

Por que tantos refugiados procuram um porto seguro na Europa Ocidental e nos EUA? Porque essas regiões metropolitanas promovem a imagem de que ali reinam a fartura, a liberdade e a justiça. A maioria pobre ignora que a riqueza dos países colonizadores foi amealhada mediante genocídio indígena, tráfico de escravos, saques das riquezas naturais e culturais.

Os antigos colonizadores continuam a explorar os países em desenvolvimento, seja sob promessa de investimentos que os atrelam a dívidas perenes, seja através do FMI e do Banco Mundial com as suas políticas necrófilas. De onde vêm as armas de tantas guerras locais? Quem fabrica as minas que amputam pernas e mãos de pobres agricultores, pescadores e artesãos? Onde ficam estocadas as reservas cambiais das nações colonizadas? Quem explora o lítio utilizado nas baterias de notebooks, smartphones, câmeras fotográficas e veículos elétricos?

Dos 281 milhões de refugiados em 2020, 26,4 milhões obtiveram registro e 4,1 milhões solicitaram asilo. Os demais 250,5 milhões eram refugiados do FMI e das mudanças climáticas. O Relatório Mundial sobre Migração 2024 da ONU destaca que “o número de pessoas deslocadas devido a conflitos, violência, desastres e outros motivos atingiu os níveis mais altos dos registros modernos”. Trata-se de migrantes, e não apenas daqueles que fogem de perseguições.

Diante do endividamento dos países em desenvolvimento – causa da falência do México em 1982 -, o FMI aplica suas medidas de ajuste estrutural que, invariavelmente, obrigam os governos a reduzirem os investimentos em saúde e educação, e injetarem recursos nos setores voltados à exportação, como a mineração e o agronegócio.

Em 2018, o relatório do Banco Africano de Desenvolvimento mostrou que, devido aos ataques climáticos e bélicos, camponeses da África Ocidental se mudaram de áreas rurais para cidades, onde passaram a trabalhar em serviços informais de baixa remuneração. Movidos pelo sonho de melhorar de vida, muitos emigraram atraídos pelos salários mais altos no Ocidente e no Golfo. Em 2020, por exemplo, o maior contingente de migrantes foi para EUA, Alemanha e Arábia Saudita. Nesses países em geral são tratados como escória subumana.

Desde o desaparecimento da União Soviética, os EUA aumentaram sua força militar e econômica para derrubar governos que tentam manter a soberania sobre seu próprio território. Atualmente, um terço de todos os países, especialmente aqueles em desenvolvimento, enfrentam sanções punitivas dos EUA, como o bloqueio imposto a Cuba há mais de 60 anos. Essas sanções geralmente impedem que essas nações usem o sistema financeiro internacional, o que suscita caos econômico.

Os 6,1 milhões de migrantes venezuelanos que deixaram seu país o fizeram principalmente devido às restrições impostas ilegalmente pelos EUA, que destruíram a vitalidade da economia da Venezuela, dona da maior reserva de petróleo do mundo.

É paradoxal ver os EUA e a União Europeia exigirem alinhamento às suas ambições e, ao mesmo tempo, tratarem como escória as pessoas que fogem dos países bloqueados. A Alemanha, por exemplo, começou a deportar afegãos, enquanto os EUA fecham suas fronteiras e expulsam latino-americanos.

Em 2021, o Banco Mundial calculou que, até 2050, haverá pelo menos 216 milhões de refugiados climáticos. Eles vivem na expectativa de promessas que não se efetivam. Em 2015, na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP21), em Paris, os líderes governamentais decidiram criar uma Força-Tarefa sobre Deslocamento. Três anos depois, em 2018, o Pacto Global da ONU concordou que as pessoas que se deslocam por causa da degradação climática devem ser protegidas. Entretanto, o conceito de refugiados climáticos ainda não está estabelecido. E as medidas permanecem no papel.

Nenhum migrante quer deixar sua casa e sua terra para ser tratado como cidadão de segunda classe nos países metropolitanos que forçam sua migração. As mulheres se recusam a viajar longas distâncias, pois a ameaça de violência de gênero representa um risco maior. Preferem a dignidade, ainda que vivam em condições precárias.

Para as nações ricas, onde a eugenia impregna a cultura, refugiados com biotipo semelhante à população de origem “sujam menos o sangue”. Por isso, em plena campanha de rejeição às hordas de migrantes africanos em 2022, a Europa abriu braços e bolsos para acolher refugiados ucranianos de pele branca, olhos claros e cabelos louros.

O poeta palestino Fady Joudah escreveu em “Mimesis”: Minha filha não faria mal à aranha / aninhada no guidão de sua bicicleta
por duas semanas. / Esperou, até que ela saiu por vontade própria. / Se você derrubar a teia, eu disse, simplesmente ela saberá que este não é um lugar para chamar de lar. / E você poderia andar de bicicleta. / Ela disse: é assim que os outros se tornam refugiados, não é?

Frei Betto é escritor, autor do romance “Minas do Ouro” (Rocco), entre outros livros.

Candidatos, são todos iguais?

Em época de eleição respira-se emoção. A razão entra em férias, a sensibilidade fica à flor da pele. Dentro e fora de casa, todos manifestam opiniões sobre eleições e candidatos.

O tom das opiniões varia do palavrão (a desqualificar toda a árvore genealógica do candidato) à veneração acrítica de quem o julga perfeito. Marido discute com a mulher, pai com o filho, amigo com amigo, cada um convencido de que possui a melhor análise sobre as eleições…

Há quem insista em se manter indiferente ao período eleitoral, embora não o consiga em relação a candidatos, pois considera todos corruptos, mentirosos, aproveitadores e/ou demagogos.

Não há saída: estamos todos sujeitos ao Estado governado pelo partido vitorioso nas eleições. Portanto, ficar indiferente é passar cheque em branco, assinado e de valor ilimitado, a quem governa. Com perdão da redundância, governo e Estado são indiferentes à nossa indiferença e aos nossos protestos individuais.

É compreensível uma pessoa não gostar de ópera, jiló ou cor marrom. E mesmo de política. Impossível é ignorar que todos os aspectos de nossa existência, do primeiro respiro ao último suspiro, têm a ver com política.

A classe social em que cada um de nós nasceu decorre da política vigente no país. Houvesse menos injustiça e mais distribuição da riqueza, ninguém nasceria entre a miséria e a pobreza. Como nenhum de nós escolheu a família e a classe social nas quais veio a este mundo, somos todos filhos da loteria biológica. E isso não deveria ser considerado privilégio, e sim dívida social para com aqueles que não tiveram a mesma sorte.

Somos ministeriados do nascimento à morte. Ao nascer, o registro segue para o Ministério da Justiça; vacinados, Saúde; ao ingressar na escola, Educação; ao arranjar emprego, Trabalho; ao tirar habilitação, Cidades; ao se aposentar, Previdência Social; ao morrer, retorna-se ao Ministério da Justiça. E nossas condições de vida, como renda e alimentação, dependem dos ministérios da Fazenda, do Planejamento, do Desenvolvimento Social e do Desenvolvimento Agrário.

Em tudo há política. Para o bem ou para o mal. Há política até no calendário. Outrora, o ano tinha dez meses. Até O imperador Júlio César decidir acrescentar mais um em sua homenagem. Criou julho. O sucessor, Augusto, não quis ficar atrás. Criou agosto.

Como os meses se sucedem na alternância 31/30, Augusto não admitiu seu mês ter menos dias que o do antecessor. Obrigou os astrônomos da corte a equipararem agosto e julho em 31 dias. Não titubearam: arrancaram um dia de fevereiro e resolveram a questão.

Os municípios brasileiros serão o resultado das eleições de outubro. Para melhor ou pior. E os que o governarão serão escolhidos pelo voto de cada eleitor.

As instituições públicas são movidas por políticos escolhidos por nós e pessoas indicadas por eles. Todos os funcionários são nossos empregados. Pagos e mantidos por nossos impostos. Faça como o Estado: deixe de lado a emoção, pense e vote com a razão. E vote em candidatos que não tenham vínculos com máfias de transportes, facções criminosas, políticos corruptos, e defendam o direito dos excluídos por razões sociais, raciais ou sexuais. 

Frei Betto é escritor, autor de “Diário de quarentena” (Rocco), entre outros livros.

Agora é Boulos!

Guilherme Boulos é meu candidato a prefeito de São Paulo. Somos amigos há anos. Com a turma do MTST, participou de oficinas de educação popular que monitorei. Seu depoimento fecha com chave de ouro o documentário “A cabeça pensa onde os pés pisam”, dirigido por Evanize Sydow e Américo Freire, sobre minha trajetória pedagógica.

Não apenas a amizade, selada pela confiança, me faz votar em Boulos. Seu programa de governo, superior aos dos demais candidatos, é calcado nas necessidades prementes da capital paulista. Não vou repeti-lo aqui. Está na internet e nas redes.

Boulos conhece a cidade, a periferia, as favelas, e não apenas de cima do avião ou do helicóptero. Conhece porque luta, há anos, para que todos tenham direito à moradia. E o candidato do PSOL se faz acompanhar por  sua vice-prefeita, Marta Suplicy (PT), a “mãe” dos CEUs (Centros Educacionais Unificados). Nas pesquisas, ela se destaca como a melhor prefeita da história de São Paulo.

O eleitor anda, com razão, decepcionado com a política e os políticos. Muitos ignoram que a política está em tudo, embora nem tudo seja política. Do valor do transporte coletivo ao do salário-mínimo, tudo depende da política em vigor no município, no estado e no país.

Todos sabemos que muitos ingressam na política profissional em busca de riqueza, prestígio e poder. Tratam o eleitor como imbecil. Como as sereias de Ulisses, o encantam com seus discursos e promessas demagógicas e mentirosas. Sobretudo o candidato que parece disputar um campeonato de luta livre sem regras: xinga, ofende, estrebucha, sem qualquer ética.

Boulos é rigorosamente ético. Nas eleições de 2022, foi o deputado federal mais votado do estado de São Paulo, eleito com mais de 1 milhão de votos! Não haverá de se dobrar à máfia das empresas de ônibus (muitas ligadas ao PCC), fazer vista grossa diante dos fiscais da Prefeitura que achacam comerciantes ou dos guardas municipais que praticam violências a pessoas supostamente suspeitas (em geral, negros e pobres, como manda o estatuto do racismo).

São Paulo é uma cidade abandonada. Nos bairros de mansões e apartamentos de alto luxo, tudo reluz a ouro. No centro histórico e na periferia, o caos. Agora, na véspera da eleição, o prefeito decidiu recauchutar a cidade, aflito, em busca de votos, sem apresentar medidas para as questões mais importantes, como moradia, saúde, educação, saneamento e segurança municipal.

Prefeito e governador não sabem o que fazer frente à cracolândia e ao crescente número de pessoas e famílias em situação de rua.

Boulos sabe. Vem para administrar, não para enganar. Se queremos um futuro melhor para os 12 milhões de habitantes da capital paulista, o caminho tem nome: Guilherme Boulos!

Frei Betto é escritor, autor de “Jesus militante” (Vozes), entre outros livros.