O papa Francisco, ao apresentar-se na sacada do Vaticano, tinha a seu lado o cardeal Hummes, articulador de sua eleição.
Nascido em Montenegro (RS), em 8 de agosto de 1934, Dom Cláudio tornou-se frade franciscano e foi ordenado sacerdote em 1958. Sagrado bispo em 1975, João Paulo II o nomeou cardeal em 2001 e, em 2006, prefeito da Congregação para o Clero.
Conheci-o bispo de Santo André, em 1979, quando incumbiu-me de assessorar a Pastoral Operária do ABC.
Recatado nos gestos e comedido nas emoções, Dom Cláudio era um pregador incisivo e profético. Homem de convicções firmes, nada tinha de intransigente. Sabia dialogar e, ao contrário de muitos bispos, procurava manter-se teologicamente atualizado. Era, sobretudo, um religioso de vida de oração.
Convivemos nas aflições das greves do ABC, no princípio da década de 1980. Instado pela Fiesp para atuar como mediador, Dom Cláudio postou-se decisivo ao lado dos trabalhadores. Se o que estava em jogo era a vida – dom maior de Deus – ameaçada pelos índices econômicos falseados pela ditadura, não havia como esperar do bispo uma posição de suposta neutralidade.
Dom Cláudio autorizou que a matriz de São Bernardo do Campo mantivesse as portas abertas aos metalúrgicos, inclusive para a realização de assembleias, enquanto o sindicato permanecesse sob intervenção federal. Instou padres, religiosas e fiéis a participarem do Fundo de Greve. Na manhã em que prenderam Lula, telefonei imediatamente a Dom Cláudio, que se mobilizou contra a arbitrariedade.
Como arcebispo de Fortaleza e depois de São Paulo, Dom Cláudio empenhou-se em preservar, na Igreja, a unidade na diversidade. Dotado de sensibilidade social, homem de hábitos simples, trazidos da colônia gaúcha, era avesso a salões e banquetes, e só se permitia um exagero: o trabalho excessivo.
Encerrou sua carreira como vigário-geral da arquidiocese de São Paulo, orientador das pastorais sociais e presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia.
Frei Betto é escritor, autor de “Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros.