Assim como uso a palavra para manter viva a memória das atrocidades da ditadura militar (Cartas da prisão; Batismo de sangue; Diário de Fernando; O dia de Ângelo; e Tom vermelho do verde), Evandro Teixeira usou a câmera fotográfica.
Seu olho clínico capturou, com maestria, como a ditadura, que durou 21 anos (1964-1985), tratava os opositores, comprometidos com o resgate da democracia, à base de fuzis, cavalos, bombas de gás lacrimogêneo, prisões arbitrárias, torturas e assassinatos.
O talento extraordinário de Evandro Teixeira não se restringiu às expressivas fotos de ações repressivas, figuras sinistras que governavam a nação e manifestações populares contrárias ao arbítrio. Seu foco era o do artista que transmuta a cassetetada do policial em balé tétrico ou a passeata estudantil em versão moderna do coro que, no teatro grego, marcava a culminância da catarse.
A arte fotográfica de Evandro Teixeira constitui uma inestimável contribuição ao esforço para que os anos de chumbo jamais se apaguem da memória nacional e impeçam que, no futuro, se repita aquele passado de opressão, dor, morte e tirania.
Frei Betto é escritor, autor do romance policial “Hotel Brasil” (Rocco), entre outros livros.