Fez bem a bancada direitista de deputados federais bolsonaristas de convocar a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para tentar levar o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra) ao banco dos réus. Assim, o tema da violência no campo volta a ocupar o centro das atenções e os crimes do latifúndio e do agronegócio serão lembrados e denunciados.

Nascida em uma família de classe média no mais rico país do mundo – os EUA, Dorothy Stang foi tocada pela proposta de Jesus e decidiu ingressar na vida religiosa. Enviada ao Brasil como missionária, conheci-a quando preguei o retiro das irmãs da Congregação de Notre Dame de Namur, no Maranhão.

Dorothy Stang fez opção pelos pobres e foi trabalhar com os sem-terra do Pará. Defendia o primeiro projeto de desenvolvimento sustentável do estado, o PDS Esperança; a regularização da terra para famílias de trabalhadores rurais; e combatia a violência praticada contra eles por grileiros, madeireiros e fazendeiros. Em 12 de fevereiro de 2005, foi assassinada com seis tiros à queima-roupa, emboscada numa estrada rural do município de Anapu, cerca de 700km distante de Belém.

O Ministério Público apurou que a morte da religiosa foi encomendada pelos fazendeiros Vitalmiro Bastos e Regivaldo Galvão. Os pistoleiros Clodoaldo Batista, Amair Feijoli da Cunha e Rayfran das Neves Sales, contratados pelos ruralistas para executar Dorothy, foram condenados. Batista, a 18 anos, cumpre pena em regime semiaberto, em um centro de recuperação, em Belém. Amair Feijoli Cunha, a 17 anos de prisão, em prisão domiciliar. E Rayfran Sales, autor dos disparos, a 27 anos, ficou preso quase nove, foi para prisão domiciliar e em 2014 foi detido novamente acusado de outro assassinato. Vitalmiro Bastos e Regivaldo Galvão receberam penas de 30 anos cada um. Nenhum dos dois está preso…

Quem são os deputados que estão à frente da CPI? Ricardo Sales (PL-SP) dispensa apresentação. Foi ministro do Meio Ambiente no governo Bolsonaro e propôs, em reunião ministerial, “deixar passar a boiada”, ou seja, liberar a atuação de todos os empresários interessados em explorar a Amazônia sem levar em conta a preservação ambiental e os direitos indígenas.

Marussa Boldrin (MDB-GO) teve como doadores de campanha José Fava Neto, autuado três vezes pelo Ibama por uso irregular de área de cerrado, na Bahia, para plantio, e Oscar Strochon, multado duas vezes pelo Ibama, num total de R$ 400 mil, por obras poluidoras em área de cerrado.

Evair de Melo (PP-ES) teve como doadores os irmãos Vigolo, que lhe repassaram R$ 60,5 mil, e são investigados por compra de sentenças para grilagem de terras na Bahia. A empresa deles, Bom Jesus Agropecuária, já recebeu multas do Ibama que superam o valor de R$ 10 milhões.

Domingos Sávio (PL-MG) teve como doadores os irmãos Vigolo e Mauro Schaedler (este doou R$ 25 mil), autuados pelo Ibama por atividades pecuárias potencialmente poluidoras e sem licença ambiental. Recebeu multas que somam R$ 2,7 milhões.

Coronel Assis (União-MT) recebeu doações no valor de R$ 80 mil de Edmar de Queiroz, acusado de comércio ilegal de ouro. Teve sua empresa Madeplacas interditada, em 2005, por suspeita de contrabando de madeira ilegal na Amazônia. E Dambros Sbizero, detido em 2019 por suspeita de participar de fraude no sistema de criação de créditos florestais.

Charles Fernandes (PSD-BA) recebeu R$ 27,6 mil de doação de Manoel Rubens, multado pelo Ibama em mais de R$ 100 mil.

Joaquim Passarinho (PL-PA) teve como doadores Adelson Souza de Oliveira, réu em sete autos de infração do Ibama por danos à floresta Amazônica, que somam R$ 1,8 milhão em multas, e Roberto Paulinelli, dono do Frigorífico Rio Maria. Nos últimos seis anos, Paulinelli recebeu multas de R$ 387 mil por delitos ambientais.

Marcos Pollon (PL-MS) teve como doador Renato Burgel, que cometeu duas infrações por plantar sementes transgênicas em áreas de proteção ambiental.

Como diz o Evangelho, pelos frutos se conhece a árvore…

Frei Betto é escritor, autor de “Tom vermelho do verde” (Rocco), entre outros livros.

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