Morto o papa Francisco, o governo da Igreja passou automaticamente às mãos do Colégio dos Cardeais, segundo regras redefinidas por João Paulo II, em 1996, no documento Universi Dominici Gregis. Logo que os cardeais se reúnem em Roma, este documento é lido. Sob juramento, os prelados ficam obrigados ao sigilo.

Com a vacância da Sé de Pedro, todos os cardeais da Cúria Romana, inclusive o Secretário de Estado, que equivale à função de primeiro-ministro, são compulsoriamente demitidos. Apenas três permanecem em suas atuais funções: o carmelengo, cardeal Kevin Joseph Farrell, responsável pela transição e eleição do novo pontífice; o penitenciário-mor, cardeal Angelo De Donatis, a quem cabe  perdoar um dos pecados cuja absolvição é reservada à Santa Sé, como a quebra do sigilo da confissão; e o vigário geral da diocese de Roma, cardeal Mauro Gambetti.

Os poderes do Colégio Cardinalício na fase transitória são limitados. Não pode, por exemplo, modificar regras que regem a eleição papal, nomear novos cardeais ou tomar qualquer decisão que possa vir a constranger a autoridade do futuro pontífice.

A Capela Sistina é preparada para o conclave. Visitas turísticas são suspensas, para que a equipe de segurança investigue se há no recinto dispositivos eletrônicos.

São convocados à reclusão todos os cardeais presentes no Vaticano. Dos atuais 252 cardeais, 135 estão aptos a votar, se não tiverem completado 80 anos. Serão 133 eleitores. Os cardeais Antonio Cañizares, da Espanha, e Vinko Puljic, da Bósnia, não irão por motivo de saúde.

O início do conclave ocorre tão logo haja tempo suficiente para que todos os prelados cheguem a Roma. Em 1922, na eleição de Pio XI, cardeais da América do Norte e do Sul perderam o conclave porque os navios não atracaram a tempo. Hoje, as viagens aéreas tornam tudo mais fácil.
Uma vez trancados no Vaticano, nenhum deles pode sair, até que o novo pontífice esteja escolhido, exceto em caso de doença ou acidente com risco de vida e após consenso da maioria de seus pares.

Ingressam no conclave, junto com os cardeais, o secretário do Colégio dos Cardeais, Dom Lorenzo Baldisseri, que foi núncio no Brasil durante 9 anos (2002-2012); o mestre das liturgias papais, acompanhado por dois mestres de cerimônia e dois religiosos da sacristia papal; um assistente para o cardeal decano; uns poucos frades ou monges de diferentes idiomas, para atuar como confessores; dois médicos; e o pessoal do serviço de cozinha e limpeza, em geral freiras.

Nenhum cardeal pode levar assistente pessoal, exceto médico particular em caso de doença grave. Nada de computadores, celulares, jornais, TV, rádio, tablets ou aparelhos de gravação de som ou imagem. É mantida apenas uma linha telefônica, de uso exclusivo do carmelengo em caso de emergência.

Apenas três cardeais têm o direito a contatar seus escritórios: o penitenciário-mor; o vigário da diocese de Roma; e o pároco da Basílica de São Pedro. 

As normas da Igreja proíbem conchavos e articulações eleitorais antes do conclave. Isso remonta ao papa Félix IV (526-530), que pressionou o clero e o senado romanos a elegerem como seu sucessor Bonifácio, seu arcediago. Os senadores promulgaram um edito vetando qualquer discussão sobre a eleição do futuro papa enquanto o atual  estivesse vivo.

A rigor, qualquer católico solteiro do sexo masculino, maior de trinta e cinco anos, é virtual candidato a papa e poderá vir a calçar as sandálias do Pescador, ainda que seja leigo. Se eleito, deverá ser imediatamente ordenado bispo, como ocorreu com João XIX (eleito em 1024) e Benedito IX (eleito em 1032).

Frei Betto é escritor e educador popular, autor de “Batismo de sangue” (Rocco), entre outros livros.