Roberto Romano foi meu confrade na Ordem Dominicana. Convivemos no convento das Perdizes, em São Paulo, e no cárcere. Pertenceu à primeira geração de frades que, na segunda metade da década de 1960, optou por cursar Filosofia na USP.
Paranaense de Juaguapitã, tímido, Roberto se destacava pela aguda inteligência e a rara capacidade de análise. Aplicado aluno de Filosofia, esquecia das horas quando se tratava de debater uma questão polêmica, na qual opinava com perspicácia e ironia.
Quando a repressão da ditadura militar se abateu sobre os frades dominicanos solidários aos militantes revolucionários, em fins de 1969, Roberto Romano foi preso no convento do Leme, no Rio, e trazido para São Paulo. Convivemos no DEOPS e, em seguida, no Presídio Tiradentes.
Em Cartas da prisão (Companhia das Letras) registrei na missiva de terça, 3 de novembro de 1970, cela 17, Pavilhão 2: “Alegria maior foi a restituição da liberdade ao Roberto Romano. Soube da comemoração que vocês fizeram no convento.” Embora não houvesse nenhuma acusação contra ele, a ditadura o reteve no cárcere durante quase um ano.
Em Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira (Rocco), em fevereiro de 1970 descrevi: “Para espantar a fome enquanto aguardávamos ansiosos os acepipes, improvisou-se um coral integrado por Roberto Romano, Carlos Alberto Lobão, Ivo Lesbaupin, Sinval de Itacarambi Leão e Celso Antunes Horta. Jantamos, ou melhor, ceiamos às onze da noite. Como observou Tito, ninguém, irritado com a demora, se retirou em busca de um restaurante de cozinha mais ágil…”
Em julho de 1972, quando a Auditoria Militar julgou o processo dos dominicanos, Roberto Romano foi absolvido, sem no entanto merecer reparação pelo período em que esteve encarcerado.
O Brasil perde uma voz qualificada em favor da ética e da democracia. Deus o acolha em Seu infinito amor.